terça-feira, 18 de outubro de 2011

VALE À PENA LER (07):

REPRESENTAR O POVO É UM DRAMA OU UMA COMÉDIA?

"Todos sabemos que a arte não é verdade. Ela representa a mentira que nos faz perceber a verdade; pelo menos a verdade que nos é dada entender". Pablo Picasso.
Lembro-me bem da minha primeira aula de Direito Constitucional em minha faculdade, como um amante de política estava ansioso para conhecer a nossa Carta Magna. Naquele dia tive uma reflexão que mudou minha forma de ver os políticos.

Ao lermos o artigo primeiro, no seu Parágrafo único, da vigente Constituição da República, veremos que este dispositivo faz a seguinte afirmação: "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição." Portanto, o poder é do povo (soberania popular) que elege os seus representantes ao outorgar-lhes ou delegar-lhes um mandato parlamentar, para o Legislativo ou para o Executivo.

Em meio a tantas coisas, uma palavra me chamou a atenção: "representantes". Comecei a pensar em seu significado e me perguntei, "será que tem algum político que realmente me representa?". Representar alguém é algo muito profundo, que delega uma imensurável carga de responsabilidade, se não vejamos: para um político me representar ele deveria praticar os princípios básicos que regem a gestão pública, por meio da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Essas cinco palavrinhas ‘mágicas’, são um grande mistério para os nossos ilustres políticos, acredito que a maioria nem saiba o significado de ao menos uma, desta forma, concluí que raríssimas pessoas poderiam me representar.

Já estava difícil, mas a minha reflexão começou a ficar pior quando eu pensei, "tudo bem, se eles representam o povo, o que o nosso povo é?" Acredito que a resposta está nos mesmos adjetivos que estamos cansados de dizer e ouvir sobre os detentores de cargos públicos eletivos no nosso país. Verdade!!! Nossos governantes nada mais são do que o que nosso povo é. Essa é uma dura realidade, mas, se os políticos são corruptos, é por que o povo que eles representam também o é, pois vendemos o nosso voto e queremos que não haja “mensalão”; sonegamos impostos e não queremos que haja super faturamento em licitações. Infelizmente o que mais criticamos é o que mais temos feito, a consequência disso é que temos os líderes que merecemos.

Hoje, um pouco mais maduro, após algum tempo formado, vejo que a maneira com que o político brasileiro interpreta a palavra "representar" está completamente distorcida do objetivo dado pelo artigo primeiro da Constituição Federal para a mesma. Já que, depois do que tenho testemunhado em minha cidade, muitos processos para cassação de mandatos, muitas manobras engenhosas para se esquivar das penas, eu fico com um sentimento gigantesco de impunidade.

Depois de tantas frustrações eu realmente acredito em “representação” na política, artística e teatral, como dizia José María Vargas Vila: "É privilégio dos grandes artistas políticos poder erguer à altura do drama as mais sórdidas farsas do seu ofício". A verdade é que eles têm um papel, aonde são pessoas imaculadas, cheias de boa fé e muitas vezes “não sabem” do que fazem. O que temos presenciado são vários palhaços no picadeiro "representando", temos ficado sentados comendo pipoca e rindo da nossa própria desgraça.

Arrênio Lima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário